quarta-feira, 7 de março de 2012

Itiúba

A força que nunca seca
Contraria a escassez de suas fontes
Ingenuidade que se revela nos olhares
e que convive com uma natureza indomável

Uma vida áspera, opaca e repleta de espículas
confronta a singeleza das crianças
e rouba delas um tanto de sua doçura

Impele à maturidade precoce
e enrijece almas pueris

As fontes de tanta bravura
escondem-se em grotas, recantos e lajedos
E não se apresentam aos olhos maculados

Tecido de linhagem nobre
que se trama entre macambiras, facheiros e caroás

Sutil expressão guardada em rígido arcabouço

Um misto de fé, bravura e magia
Que faz do sertanejo
antes de tudo,

um Forte.



03/03/2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Shangri-La




Sons de Odoyá
Compoem a melodia
Em cenário de sal, azul e clarões
Alumiando o eterno momento
Contido naquele crepúsculo

Vívida sensação de plenitude
Alcançada ante aos dissabores alheios
Sabores tintos
Desejos antigos
Ondulam frequencias sutis
Que tingem esses dias anis


10/02/2012

domingo, 3 de abril de 2011

A era das mutações

Uma coisa é fato. Nunca, em nenhum outro momento histórico, a questão ambiental foi tão discutida e amplamente disseminada em todos os setores da sociedade. Devemos observar com entusiasmo essa abordagem, pois permite a inserção das problemáticas a serem superadas na agenda das políticas públicas e torna acessível à população informações que podem auxiliar na construção de uma consciência mais crítica. Por outro lado, parece que há ainda muita coisa por fazer e estamos engatinhando. A constatação de que o modo de produção capitalista, de crescente consumo e descarte de produtos, não era compatível com a sustentabilidade do planeta, já caminha por três décadas, sendo que no Brasil o seu marco histórico remonta ao ano de 1992, onde se realizou a ECO-92, uma importante Conferência da ONU reunindo 175 países no Rio de Janeiro, discutindo os problemas e apontando soluções para a conciliação entre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A agenda pública e o comportamento da sociedade ainda não dão evidências de preocupação real com o futuro do planeta, passando a impressão de que as conseqüências do modelo predatório de civilização adotado demorarão ainda muito tempo para nos acometer, ou que tudo que se anuncia e divulga sobre a crise ambiental é um mito moderno que será solucionado com a inventividade tecnológica do ser humano. Cabe a nós, educadores, anunciar e proclamar a necessidade do estabelecimento de novas relações, com o outro, com os demais seres e com o mundo. Cabe a nós despertar, sobretudo nas crianças e jovens, que precisamos cuidar mais do mundo, pois dele dependemos para a nossa sobrevivência e o modo como estabeleceremos essa relação, daqui por diante, será decisório para o nosso futuro.

Um ambiente de violência e escassez

A morte do menino Joel, mais uma vítima da catástrofe social, no bairro do Nordeste de Amaralina, tem me angustiado bastante esses dias. Uma criança, uma vida inteira de sonhos, expectativas, caminhos ... interrompida por alguns disparos. Um menino negro, de família simples, filho de um mestre de capoeira, pessoa íntegra e honesta. Uma criança como tantas outras que experimentam o prazer e a dor de viver em um bairro popular e populoso, o prazer de compartilhar a infância, de ser amado pela família, de ter bons exemplos dentro de casa, nos pais batalhadores e resignados na missão de criar cidadãos de bem. A dor de compartilhar a violência cotidiana dos que são desassistidos, pela família, pelo estado, pelo mundo. Dos que sentem na pele a escassez ... de afeto, de proteção, de alimento, de habitação, de felicidade, de perspectiva. Uma criança que vive essa dualidade, esses dois mundos em uma mesma composição. A violência presente no estabelecimento e des/organização do tráfico de drogas só é superada pela violência dos agentes do estado, do poder legalmente estabelecido, que, em nome da segurança pública, age baseado na crença de que em uma comunidade onde a maioria da população é negra e humilde, só existem criminosos e marginais. As condições em que essa criança morreu e a desassistência prestada ao pai desesperado com um filho quase morto nos braços é um retrato das contradições que ainda são presentes em nosso país. A violência combatida com truculência não resolve um problema que tem raízes históricas e que encontra reforço na ausência de políticas públicas eficientes. A atuação hostil do nosso corpo de segurança nesse episódio reflete um pouco do modo como a sociedade enxerga essas comunidades e essas crianças e jovens, e é urgente a mudança de comportamento e de atitude em relação a essa banalização da violência. É importante refletirmos sobre as bases da violência, avaliando o componente biológico, genético, e também o componente social, as mazelas, toda a escassez e desassistência que impera na vida de milhões de jovens, que terminam sendo recrutados para a criminalidade e atuam com uma violência que nos choca. Se cada cidadão tiver a compreensão da enorme teia de elementos que influencia esse processo, passará também a discordar das “metodologias” de nosso serviço público de segurança, bem como poderá tentar fazer a sua parte para reduzir os índices de violência que presenciamos na atualidade.

A atitude blasê dos animais do zoológico

A atitude blasê surge como consequência natural do modo de vida urbano, manifestando-se através da indiferença ao que é cotidiano. De uma forma muito mais chocante, não é que percebo que os animais expostos no zoológico também comportam-se com a mesma atitude blasê?! Impulsionados talvez pela total negação de suas essências instintivas, os seres ditos não-racionais começam a absorver características peculiares aos seres ditos racionais, absorvendo a "essência" que o homem-macaco foi adquirindo no seu processo de transformação em homem-civilizado. O que hoje vemos, expostos em recintos fechados, não são animais, mas meras sombras ou protótipos de bichos-gente. Mas o que provoca essa situação? Os animais que vivem no zoológico estão completamente afastados do seu habitát original, ainda que existam projetos de ambientação dos recintos, visando a aproximação dos mesmos com os ambientes naturais dos animais, nem de longe se poderá conseguir a reprodução das condições ideais. Toda a percepção sensitiva que intui os animais às práticas de alimentação, reprodução, defesa, etc, são aniquiladas diariamente, condicionando a maioria delas ao provimento por seres humanos.
Não raro, quando passeamos em frente às jaulas dos animais, observamos alguns deles, os mais silvestres, não habituados ao convívio humano, lançando olhares de indiferença aos esquisitos transeuntes, dotados de teleencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, nos provocando uma instigante reflexão:
Até que ponto os homens, com sua visão "pseudo-ambientalista", tem o direito de enclausurar os animais submetendo-os à sua mera necessidade do espetáculo?
Não satisfeitos com a negaçao dos instintos primitivos dos bichos, os homens vão mais longe, incutindo nos animais do zôo a sintomatologia comportamental típica do homem urbano, ou seja, a atitude blasê!
Mas não é por acaso que continuamos em processo de franca in-volução.

O Espírito Capitalino

Quando se aproxima o natal, começa a ferveção do consumo, as promoções, os sugestionamentos midiáticos, as belíssimas propagandas, que, a todo custo, tentam nos vender a idéia de que natal feliz é com mesa farta e muitos presentes. Para as crianças é uma verdadeira tortura (não exatamente para elas, mas para seus pais ou responsáveis), e a ansiedade pelo tão esperado dia da chegada do papai Noel, com sua mágica sacola de presentes, distribuindo alegria e felicidade, tira o sono de muitas delas.
É muito raro conseguir captar a verdadeira essência do natal, no meio desse turbilhão de informações de compras, créditos e promoções. E a figura central do papai Noel então? Jesus Cristo, um ser humano iluminado, um homem que propagou mensagens tão simples para a harmonia entre os povos, que viveu com tanto desapego material, que vivenciou a sua filosofia de vida, fica completamente esquecido nessa data onde se comemora o seu nascimento, e mais do que isso, a inspiração que foi – ou que pelo menos deveria ser – a sua vida.
Como mãe, já me questionava há muito sobre se deveria educar meus filhos com a cultura do Natal que os brasileiros se apropriaram, e decidi que essa fantasia dos presentes, do papai Noel, do pinheiro, nada tem a ver com a nossa cultura e portanto não deveria endossar esse processo.
Meus filhos não esperam papai Noel chegar, pois sabem que nesse dia, se comemora o nascimento de um homem que foi exemplo de vida para toda a humanidade, e que é portanto um dia muito especial, para refletirmos sobre os nossos atos, sobre como deveríamos ser mais bondosos, caridosos, desapegados materialmente, tolerantes. É um dia de dar e receber amor, de fortalecer a união, de ser mais humano mesmo, na essência do que deveria ser esse “atributo”.
Nesse período fico extremamente melancólica e só imaginando como seria se as famílias, ao invés de comprarem diversas iguarias que não brotam em nosso solo, a preços muitas vezes exorbitantes (damascos, nozes, avelãs ...) e enfeitarem os clássicos pinheiros (árvore exótica à nossa flora nativa), se reunissem em asilos, orfanatos, casas de acolhimento à pessoas com demandas de saúde, de vícios ... enfim, se nesse período todos se voltassem para amparar (mesmo que em apenas um dia) os desamparados, o verdadeiro espírito natalino de amor, compaixão e fraternidade se reverberaria, ampliando as virtudes inspiradas pelo grande homem que foi Jesus.

domingo, 11 de julho de 2010

Davi


Vida doce,
serena
e iluminada.

Presente mais dadivoso
e sublime
não ousava receber.

Um menino anjo
que me encanta
e desfaz qualquer intenção
de tristeza
dor
ou melancolia.

A luz que emana do teu olhar
traz uma quietude e uma bondade
como jamais pensei vislumbrar.

Sinto-me inundada de alegria
e plena com a felicidade de poder oferecer
um pouco mais de amor,
harmonia
e doçura ao mundo.

Tê.