domingo, 3 de abril de 2011

Um ambiente de violência e escassez

A morte do menino Joel, mais uma vítima da catástrofe social, no bairro do Nordeste de Amaralina, tem me angustiado bastante esses dias. Uma criança, uma vida inteira de sonhos, expectativas, caminhos ... interrompida por alguns disparos. Um menino negro, de família simples, filho de um mestre de capoeira, pessoa íntegra e honesta. Uma criança como tantas outras que experimentam o prazer e a dor de viver em um bairro popular e populoso, o prazer de compartilhar a infância, de ser amado pela família, de ter bons exemplos dentro de casa, nos pais batalhadores e resignados na missão de criar cidadãos de bem. A dor de compartilhar a violência cotidiana dos que são desassistidos, pela família, pelo estado, pelo mundo. Dos que sentem na pele a escassez ... de afeto, de proteção, de alimento, de habitação, de felicidade, de perspectiva. Uma criança que vive essa dualidade, esses dois mundos em uma mesma composição. A violência presente no estabelecimento e des/organização do tráfico de drogas só é superada pela violência dos agentes do estado, do poder legalmente estabelecido, que, em nome da segurança pública, age baseado na crença de que em uma comunidade onde a maioria da população é negra e humilde, só existem criminosos e marginais. As condições em que essa criança morreu e a desassistência prestada ao pai desesperado com um filho quase morto nos braços é um retrato das contradições que ainda são presentes em nosso país. A violência combatida com truculência não resolve um problema que tem raízes históricas e que encontra reforço na ausência de políticas públicas eficientes. A atuação hostil do nosso corpo de segurança nesse episódio reflete um pouco do modo como a sociedade enxerga essas comunidades e essas crianças e jovens, e é urgente a mudança de comportamento e de atitude em relação a essa banalização da violência. É importante refletirmos sobre as bases da violência, avaliando o componente biológico, genético, e também o componente social, as mazelas, toda a escassez e desassistência que impera na vida de milhões de jovens, que terminam sendo recrutados para a criminalidade e atuam com uma violência que nos choca. Se cada cidadão tiver a compreensão da enorme teia de elementos que influencia esse processo, passará também a discordar das “metodologias” de nosso serviço público de segurança, bem como poderá tentar fazer a sua parte para reduzir os índices de violência que presenciamos na atualidade.

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